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Pesquisadores mineiros usam fungos da Antártida para criar medicamentos

Pesquisadores mineiros usam fungos da Antártida para criar medicamentos

A possibilidade de desenvolver medicamentos para a cura ou tratamento de doenças como dengue, leishmaniose, de Chagas e malária a partir de fungos encontrados somente na Antártida é o objetivo do projeto MycoAntar, coordenado pelo professor Luiz Henrique Rosa, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujos integrantes partem em novembro rumo ao continente gelado, para coletar esses micro-organismos.


Mas engana-se quem pensa que essa equipe é formada por “marinheiros de primeira viagem”. Esta será a sétima vez que o professor Luiz Henrique vai à Antártica e, pelo que parece, o interesse em torno da identificação de fungos com potencial de produzir medicamentos está aumentando. “Até então, nosso trabalho com fungos era parte de um projeto voltado ao estudo de micro-organismos. Tanto que nossas coletas se concentravam na península antártica (parte mais próxima à América do Sul). Agora, o foco do projeto, que vai até 2017, é apenas a coleta de fungos”, explica o coordenador, contando que os resultados dos estudos iniciados em 2006 renderam diversas publicações científicas, o que deu mais visibilidade ao estudo.

Se a viagem está marcada para novembro, os preparativos já começaram há muito tempo. O coordenador de cada projeto desenvolvido na Antártida precisa mapear as regiões onde existe o interesse de passar, para estabelecer a rota que o navio vai seguir. De acordo com Luiz Henrique, a embarcação tem uma boa estrutura de laboratórios, mas é preciso enviar os equipamentos específicos para sua pesquisa. Como a Antártida é uma região inóspita, quem vai para lá precisa passar por um treinamento, dado pela Marinha do Brasil, a fim de conhecer suas particularidades e perigos e como lidar com eles.

 

Luiz Henrique, que já esteve lá por seis vezes, afirma que, na Antártida, o trabalho se desenvolve em função do clima, que muda muito rápido. “Ao mesmo tempo em que, às 9h, você tem céu azul, às 10h podem chegar ventos de 100km/h e, às 11h, uma tempestade de neve. Então, se o tempo ficar fechado, não há muito o que fazer. De repente, a previsão é de cinco dias bons e todo mundo trabalha muito, ainda mais que lá não tem noite”, conta.

Quem está indo para a Antártida pela primeira vez e já passou pelo treinamento é a estudante de ciências biológicas Débora Amorim Saraiva Silva, de 22 anos. “Ainda não caiu a ficha que eu estou indo para a Antártida, um lugar onde poucos têm a oportunidade de ir. Profissionalmente, é uma oportunidade única e uma trilha para seguir a carreira acadêmica”, disse. Segundo o coordenador do projeto, esse início de formação de um graduando é uma característica importante. “A prioridade é dos mestrandos e doutorandos, que precisam disso para escrever suas teses, mas tento sempre guardar uma vaga para um graduando”, conta Luiz Henrique.

Hoje, o acervo de fungos coletados na Antártida pelo ICB é de 5 mil linhagens. O incêndio que ocorreu em 2012, na Estação Comandante Ferraz, chegou a destruir todo o material armazenado ali. Mas como o acervo do ICB era completo, o principal prejuízo computado no projeto foi a perda da estrutura de apoio no local. Essas linhagens podem ser divididas em dois grupos: os cosmopolitas, encontrados em várias regiões do mundo, e os endêmicos, que existem apenas na Antártida. A riqueza dos fungos endêmicos está no fato de eles serem capazes de produzir substâncias bioativas únicas. Mas as linhagens cosmopolitas também têm sua função: o estudo das mudanças climáticas, como o aquecimento global, pode ser constatado justamente pela redução das linhagens endêmicas e o aumento das cosmopolitas.

A expectativa desta temporada é a coleta de um material mais vasto, já que a busca será feita numa região muito maior, expandindo o número de amostras, a possibilidade de identificar novas linhagens de fungos e, consequentemente, as chances de encontrar curas ou tratamentos para doenças. “Como a verba que banca a pesquisa é pública, buscamos usá-la para trazer benefícios para a população brasileira. Mas é um processo lento, e isso nem sempre é compreendido”, conta o coordenador do MycoAntar.

Comunicação

 

Com essa declaração, Luiz Henrique se refere à percepção que a população em geral tem a respeito de seu trabalho. “Já li comentários de pessoas revoltadas por estarmos coletando fungos na Antártida, declarando que essa verba deveria ser usada para construir hospitais. Ali, ficou claro que poucos conseguem enxergar que esse trabalho pode ser responsável pela cura de várias doenças no futuro”, explica.

E é para corrigir essa lacuna que entra o trabalho de Juliana Botelho, coordenadora do projeto de divulgação científica MycoProjector junto a mais três profissionais da comunicação. “O próprio edital da pesquisa previa que deveria ter um trabalho de divulgação. Nossa missão é dar visibilidade e, de alguma forma, justificar para a sociedade o investimento público, uma espécie de prestação de contas”, diz Juliana.

O objetivo do MycoProjector vai muito além de produzir alguns vídeos para hospedá-los no YouTube. O trabalho que vem sendo feito é a criação de uma plataforma que também possibilite a interação com o público. O plano de comunicação de Juliana envolveu a criação de um site sobre o MycoAntar, divulgação por meio de redes sociais, além dos planos de fazer, ao fim do projeto, um livro virtual e uma exposição fotográfica. Outro objetivo importante é promover a inclusão, por meio da produção de material acessível aos cegos e surdos-mudos.

Geopolítica

O coordenador do MycoAntar chama a atenção para a questão estratégica, que é a realização de pesquisas científicas na Antártida, um imenso continente inabitado e que tem porções reivindicadas por diversos países, mas que, por meio de um tratado, não pertence a ninguém. O continente guarda preciosidades, como o maior reservatório de água potável do mundo. Por isso é tão importante, geopoliticamente, atuar por ali.

 

Fonte: Estado de Minas

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