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Laboratório do país entre em grupo internacional para criar novas drogas

Laboratório do país entre em grupo internacional para criar novas drogas

A farmacêutica brasileira Aché acaba de entrar no Structural Genomics Consortium (SGC), uma parceria internacional entre universidades, governos e indústrias para acelerar o desenvolvimento de novos remédios.

O objetivo do consórcio,  que se iniciou há onze anos e tem sede nas universidades de Toronto e Oxford, é reunir grandes equipes de cientistas para fazer a primeira parte da pesquisa que permite o desenvolvimento de novos fármacos.

Chamada de etapa biológica, ou pré-clínica, essa é a fase em que os cientistas identificam novos alvos com potencial farmacêutico e passam a testá-los em modelos celulares e em animais.

A proposta do consórcio é que essa parte da pesquisa seja feita de modo aberto e colaborativo: cientistas das universidades e da indústria trabalham juntos e suas descobertas são compartilhadas com pesquisadores do mundo inteiro, sem patentes.

Identificado o alvo biológico, as equipes públicas e privadas passam a fazer sua própria pesquisa secreta para tentar desenvolver remédios para aquele alvo.

“Em geral, várias empresas farmacêuticas fazem a mesma pesquisa biológica ao mesmo tempo de modo secreto. Isso consome um volume incrível de tempo e recurso. Quando a pesquisa não dá em nada, é uma sucessão de resultados negativos que ninguém compartilha, então o colega faz a mesma coisa e tem o mesmo resultado”, diz o biólogo Paulo Arruda.

Mesmo quando a pesquisa dá em algo, esse processo, feito de modo isolado, leva cerca de seis anos, segundo Arruda. “Com a pesquisa aberta, nós conseguimos passar de uma desconfiança de que seria possível inibir seletivamente uma determinada enzima até os testes humanos em apenas dois anos”, diz o biólogo.

Para Arruda, o número de novos remédios lançados no mercado estagnou nos últimos 20 anos porque atingimos um platô de conhecimento biológico. “Chegamos a um certo limite do que sabemos de biologia humana. Para sair desse platô, é preciso fazer pesquisas mais extensas e coletivas”, diz ele.

No Brasil, o SGC tem parceria com a Unicamp desde o ano passado, quando foi construído o Centro de Biologia e Química de Proteínas Quinases, chefiado por Arruda.

O Centro da Unicamp se dedica a pesquisas proteínas regulatórias que controlam o processo inflamatório das células, possibilitando, por exemplo, a proliferação de cânceres. “Existem cerca de 500 genes que codificam as quinases. Deles, só 50 são bem conhecidos. Os tratamentos de câncer atuais se baseiam nesses 50. Nosso objetivo é ampliar um pouco esse número”, diz Arruda.

O Laboratório da Unicamp é mantido por agências de fomento internacionais e pela Fapesp. Segundo Carlos Henrique de brito Cruz, diretor do órgão, a inclusão de uma farmacêutica nacional deve impulsionar a pesquisa no país. “De modo geral, o que se faz no Brasil hoje é desenvolver novos ativos para alvos biológicos já estabelecidos. Nós queremos passar para um outro patamar, que seria justamente descobrir novos alvos”, afirma Cristiano Guimarães, diretor de “inovação radical” da Aché.

Na colaboração da Aché com o consórcio, a empresa desenvolverá moléculas sondas em seu recém-inaugurado Laboratório de Design e Síntese molecular. “Essas moléculas são importantes para testar a função desses alvos biológicos em ensaios in vitro e in vivo que serão conduzidos pelo consórcio”, diz Cristiano.

“Esperamos que outras empresas brasileiras se interessem pelo consórcio a  partir dessa experiência inicial, a participação de uma empresa não limita a participação de outras de modo algum já que o objetivo é acadêmico e só secundariamente comercial”, diz Cruz.

Fonte: Folha de S.Paulo

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