22 maio Cronofarmacologia: tomar os remédios na hora certa é essencial
Está cada vez mais claro que o corpo humano é uma maquinaria complexa, cujo funcionamento adequado depende de diversos fatores, muitos deles não bem compreendidos por nós ainda. No entanto, os pesquisadores realizam esforços diários visando o entendimento da fisiologia, bioquímica, psiquiatria e psicologia dos humanos. O conhecimento adquirido é de importância fundamental para que saibamos como viver com mais saúde, seja evitando doenças, ou combatendo-as melhor.
A cronofarmacologia é a ciência que estuda a hora mais adequada de tomar os medicamentos, baseando-se no que se sabe do funcionamento do nosso organismo. O horário de ingestão do remédio faz toda a diferença no tratamento, pois pode tanto aumentar a eficácia dele, como minimizar os seus efeitos colaterais.
Nosso organismo não é uma constante o dia inteiro: ele sofre inúmeras variações hormonais e seu ritmo biológico é resultado direto dos fenômenos ambientais periódicos e recorrentes, como as estações do ano, as fases da lua, as oscilações das marés e principalmente o ciclo dia/noite. A cronofarmacologia ajusta a concentração dos medicamentos durante as 24 horas do dia, em sincronia com os ritmos biológicos dos seres vivos.
Cada função do nosso organismo pode ser regida por um ritmo distinto. O ritmo circadiano dura 24 horas, e cada processo, como atividade digestiva e controle hormonal se repete diariamente, quase sempre nos mesmos horários. O ritmo ultradiano é aquele na qual as repetições ocorrem em menos de 20 horas, como a secreção da insulina, e o infradiano, é o que ocorre em períodos maiores de 28 horas como o ciclo menstrual.
Como o princípio ativo de cada medicamento possui alvo e objetivos terapêuticos diferentes, não existe uma hora universal de tomada para todos os medicamentos. Por exemplo, os sintomas da asma possuem maior incidência entre 0h e 6h, devido a queda na produção do cortisol, que provoca uma contração nos brônquios, com pico às 4h. Para que o remédio faça efeito às 4h, recomenda-se que ele seja administrado pelo menos 8 horas antes, ou seja, as 20h. Para tratamento das dores, por sua vez, o melhor horário para se tomar analgésicos é no começo da noite, horário no qual o ritmo das tarefas diminui, percebendo-se mais a dor.
Cada caso é único, assim como cada organismo o é. Dessa maneira, os horários que são válidos para um paciente, podem não ser os melhores para outro, e devem ser estipulados individualmente pelo médico. Deve-se levar em conta também a rotina do paciente. Não adiantaria de nada estipular o horário perfeito se ele não pudesse ser cumprido. É necessário então investigar fatores como o sono, alimentação, rotina de trabalho, ritmo do sistema digestivo e metabólico, além da produção hormonal.
Espera-se que as práticas da cronofarmacologia sejam adotadas progressivamente, sendo inclusive especificadas nas bulas dos medicamentos, como já ocorre em 100 medicamentos nos Estados Unidos. No Brasil, esta é uma área ainda pouco estudada, por isso a maioria dos medicamentos aqui não possui a posologia ditada por essa ciência. Contudo, o entusiasmo frente cronofarmacologia vem crescendo, afinal, ela não somente é favorável a todos, mas pode ser especialmente benéfica para idosos e crianças, cujos organismos são mais frágeis e possuem ainda mais particularidades.
Fonte: SBFC
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