CRF-PA | ’’Sibutramina não deve ser retirada do mercado’’
Acesse os serviços online em qulaquer lugar
Conselho regional de farmácia do Estado do Pará
8379
post-template-default,single,single-post,postid-8379,single-format-standard,qode-quick-links-1.0,ajax_fade,page_not_loaded,,qode_grid_1300,footer_responsive_adv,hide_top_bar_on_mobile_header,qode-child-theme-ver-1.0.0,qode-theme-ver-11.2,qode-theme-bridge,bridge-child,wpb-js-composer js-comp-ver-6.10.0,vc_responsive
 

’’Sibutramina não deve ser retirada do mercado’’

’’Sibutramina não deve ser retirada do mercado’’

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realiza hoje um painel científico para tentar encerrar, definitivamente, a discussão sobre a proibição da venda de remédios para emagrecer. A ideia é banir quatro drogas: sibutramina, femproporex, mazindol e dietilpropiona.

Depois de realizar audiências públicas e debates no Senado e na Câmara, a Anvisa pretende chegar a uma conclusão hoje. Caso mantenha a intenção de cancelar os registros dessas drogas, o caso será enviado para decisão definitiva da diretoria colegiada.

O cardiologista Christian Torp-Pedersen, membro do comitê independente responsável pelo estudo Scout – que foi o gatilho para a proposta de proibição das drogas -, fará palestra sobre o assunto a convite da Anvisa. Em entrevista ao Estado, porém, ele afirma ser contra a retirada desses remédios do mercado.

O senhor faz parte do comitê que dirigiu o Scout. Quais são as principais conclusões?

O estudo mostrou que o tratamento prolongado em pacientes obesos com fatores de risco para doenças cardiovasculares aumentou em 16% a chance de enfarte ou derrame. Mas é importante lembrar que a população do estudo é totalmente diferente daquela que normalmente recebe o tratamento.

Qual era o perfil do paciente avaliado no Scout?

Eram pessoas com alto risco para doenças cardiovasculares. Cerca de 80% tinham diabete, 80% doenças cardiovasculares e 80% hipertensão.

O que causou o aumento de risco cardiovascular em quem tomou a sibutramina?

A análise do Scout não forneceu uma resposta clara. Os pacientes que tomaram sibutramina apresentaram um estímulo moderado do sistema nervoso simpático, como o aumento dos batimentos cardíacos. Provavelmente, o risco da sibutramina está ligado ao estímulo do sistema nervoso simpático.

Os resultados dizem que a sibutramina aumenta o risco cardíaco e, por isso, não deveria mais ser usada. Isso é válido para todos os pacientes obesos?

Não. O aumento no risco se mostrou apenas para pacientes com o perfil do estudo Scout. Por isso, não há uma forma segura para extrapolar o resultado para uma população de baixo risco. Ainda que se assuma que há um pequeno risco para esses pacientes, a escolha da sibutramina pode ser a melhor decisão. Ela os ajudará a perder peso e melhorar a qualidade de vida. Não há uma alternativa mais segura e há necessidade de avaliar vantagens e riscos.

O senhor acha que a sibutramina e os outros emagrecedores deveriam ser proibidos?

Não. Acredito que os remédios devem ser permitidos, e os riscos comprovados e não comprovados devem ser explicados aos pacientes. Há necessidade de medicamentos de redução de peso e não há alternativas mais seguras.

Qual a contribuição que o Scout traz para o debate?

Ele mostra que a sibutramina aumenta os riscos de enfarte e derrame em pacientes com fatores de risco. É muito importante lembrar que as opções para os obesos não são muitas e analisar a segurança das drogas é um problema geral, que precisa ser avaliado caso a caso.

Os riscos dos emagrecedores são maiores do que os da obesidade não tratada?

Não há uma resposta simples. A obesidade pode causar doenças cardiovasculares, reumáticas, apneia do sono, etc. Pacientes com obesidade moderada, sem nenhuma outra doença, não devem ser tratados com drogas, mas sim com dietas e exercícios. Obesos que não respondam a dietas e exercícios, e tenham outros problemas, é melhor que sejam tratados com um remédio de risco moderado do que ficar sem tratamento.

Existem outros medicamentos que também trazem riscos à saúde, mas continuam no mercado?

Há vários deles. Por exemplo, o flecainide – usado para tratar fibrilação atrial – foi associado a um aumento de mortalidade em pacientes com fatores de risco. No entanto, está no mercado e cabe aos médicos decidir se vale a pena utilizá-lo. Outro exemplo é o diclofenaco, usado para tratar dores. Pesquisas indicam que esse remédio aumenta a mortalidade dos pacientes. Em vários países, como no Brasil, é vendido no balcão sem avisos sobre riscos e segurança. Se a sibutramina fosse proibida, outras drogas também deveriam ser. Não recomendo tal medida, mas insisto na necessidade de um bom aconselhamento antes do uso.

Para a Anvisa, os riscos de usar sibutramina são maiores do que os benefícios.

Eu discordo. Acredito que ela deve estar disponível no mercado com o devido aviso sobre os riscos potenciais de enfarte e derrame. Ela pode ser a única opção em casos difíceis.

QUEM É

É cardiologista do Hospital Gentofte e professor da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. É um dos pesquisadores do comitê que coordenou o estudo Scout, que foi encomendado pelo fabricante e analisou os riscos do uso da sibutramina em pacientes com doenças cardiovasculares.

PARA LEMBRAR

A discussão sobre a proibição da venda dos remédios para emagrecer no Brasil começou no ano passado, quando a União Europeia resolveu banir a sibutramina baseada nos resultados do Scout – estudo que avaliou o uso da droga em cerca de 10 mil pacientes.

Pouco depois, o fabricante da sibutramina decidiu retirar a droga de circulação nos EUA. Desde então, a Anvisa vem debatendo o tema com sociedades médicas. No ano passado, a agência mudou a classificação desses remédios para anorexígenos e restringiu o receituário para tornar a venda mais difícil. A medida teve efeito e, segundo a própria Anvisa, a venda despencou.

Em fevereiro, porém, a agência propôs o cancelamento do registro dos remédios usados para emagrecer. Para isso, apresentou um relatório elaborado por uma câmara técnica apontando que os riscos dessas drogas à saúde não superam os benefícios. A classe médica contesta os argumentos da agência.

Fonte: Estadão

Nenhum comentário

Deixe um comentário