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Enfim, o viagra feminino

Enfim, o viagra feminino

A corrida do ouro das indústrias farmacêuticas para chegar ao viagra feminino parece estar se aproximando da reta final, mas não se sabe ainda se as mulheres sairão vencedoras.

Desde 1998, quando o Viagra multiplicou as vendas da Pfizer, promovendo uma revolução sexual masculina, empresas do mundo inteiro tentam encontrar uma fórmula que possa ser utilizada da mesma maneira por elas. Nesta disputa, a Nord Pharma parece ter levado vantagem.

A empresa lança este mês na Inglaterra o Lady Prelox, que vai custar o equivalente a R$ 132 por 60 comprimidos — para um mês de tratamento, já que a indicação é tomar dois comprimidos por dia.

Segundo informações da Nord Pharma, o novo medicamento é 100% natural, feito à base de ervas, e “aumenta a libido e a excitação em mulheres”, pois “estimula o fluxo sanguíneo para os órgãos reprodutivos, bem como o cérebro”.

Para tanto, possui em sua composição: pycnogenol, um extrato botânico da casca do pinheiro marítimo francês, conhecido por suas propriedades antioxidantes; arginina, aminoácido que estimula a produção do óxido nítrico, responsável pelo aumento da vasodilatação; rosvita, o extrato da flor da rosa silvestre que possui grande concentração de vitamina C e contribui para a função psicológica; e a citrulina, um aminoácido que auxilia a arginina a estimular a produção de óxido nítrico.

Fisiologicamente falando, a combinação dos componentes faz sentido, afirmam os especialistas. Ao agir sobre a produção do óxido nítrico, o medicamento busca a mesma atuação do Viagra, de vasodilatação, mas também atua no sistema nervoso central.

No entanto, os 16 anos de busca pelo viagra feminino nos ensinam que o desejo da mulher é bem mais complexo do que a sua fisiologia.

— O que temos que entender é que a sexualidade da mulher é multifatorial.

Há questões muito profundas, de educação muito rígida, traumas sexuais, dificuldades no relacionamento e falta de atratividade pelo parceiro — diz a coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo, Carmita Abdo.

— São questões que para os homens são bem menos importantes.

Eles têm problemas de ordem mecânica, por isso a medicação resolve o problema mais facilmente.

Com as mulheres, temos que refletir sobre outras dificuldades. Senão vamos esperar demais do remédio quando poderíamos estar tentando identificar com elas o que bloqueia sua satisfação.

Aí entra uma outra discussão, bem mais ampla e complicada. Existe, de fato, o que os médicos chamam de Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo (HSDD, na sigla em inglês)?

Ele é medido pela quantidade de testosterona produzido pela mulher. Alguns dizem que sim, outros ainda se questionam.

Enquanto isso, o Consenso de Princeton — termo assinado por médicos no congresso na cidade americana, em 2002 —, ainda está em vigência.

Ele estabelece, entre outras diretrizes, que a baixa produção do hormônio em mulheres não pode ser medida, por falta de padrões de base.

— A testosterona utilizada em mulheres já foi chamada de viagra feminino.
Acontece que técnicas que medem a produção do hormônio foram feitas para homens, que possuem uma produção 20 vezes maior — alerta o membro da diretoria da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (Sgorj), Jorge José Serapião.

— Quando você mede uma coisa com padrões errados, os resultados são falsos.

O consenso estabelece que o transtorno só pode ser diagnosticado após descartar fatores psicológicos, e sem base na dosagem hormonal.

Mas a terapia possui efeitos colaterais irreversíveis, como crescimento de pelos, aumento do clitóris e mudanças no timbre de voz.

EFEITO PLACEBO

Mesmo sem comprovação científica, mundo afora mulheres são diagnosticadas com HSDD. Tudo parece levar a uma questão meramente mercadológica: a busca pelas somas infindáveis de um medicamento que aumente o prazer sexual das mulheres.

Mas, como tudo que envolve o universo feminino, não há um consenso sobre o caso.

O ginecologista e sexólogo Amaury Mendes Júnior, professor médico do ambulatório de sexualidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e secretário geral da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, comemora o novo medicamento, mesmo que sua eficácia tenha sido comprovada com estudo em apenas 200 mulheres.

— Acho esse remédio mais interessante do ponto de vista social.

Quando as pessoas debatem o assunto publicamente, muitas mulheres que têm problemas sexuais acabam procurando ajuda — afirma Mendes Júnior.

— Apesar de nenhum remédio ter o poder de enganar o cérebro, todo medicamento tem efeito placebo de cerca de 30%.

Se a mulher tem um parceiro bacana, mas possui questões de autoestima, por exemplo, pode sim ter benefício com o medicamento.

Um estudo canadense comprova o efeito psicológico.

Durante três meses, 200 voluntárias participaram de uma pesquisa com viagra.

Algumas tomaram o medicamento e outras apenas placebo.

Das que fizeram uso do viagra, 57,4% relataram maior prazer genital.

No entanto, 43,9% das que tomaram placebo declararam o mesmo efeito.
— Na verdade, o remédio auxilia a resposta sexual das mulheres, mas não vai ser útil para todas elas — ressalta Carmita.

— Para aquelas que possuem desejo, interesse sexual, mas não conseguem desenvolver uma relação satisfatória por problemas de excitação que diminuem a lubrificação, o Lady Prelox é válido.

Mas para aquelas inibidas, bloqueadas, que não têm iniciativa, é preciso buscar outras maneiras.

Segundo Serapião, desde 1930, Freud já tinha a melhor solução para o caso:

— Ele disse em um congresso: “Se quiserem saber um pouco mais sobre as mulheres, esperem os avanços da medicina ou vão até os poetas”.

Até hoje ele está certo.

Os poetas certamente sabem mais do desejo das mulheres do que os produtores do viagra feminino.

Fonte: O Globo 

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Enfim, o viagra feminino

Enfim, o viagra feminino

A corrida do ouro das indústrias farmacêuticas para chegar ao viagra feminino parece estar se aproximando da reta final, mas não se sabe ainda se as mulheres sairão vencedoras.

Desde 1998, quando o Viagra multiplicou as vendas da Pfizer, promovendo uma revolução sexual masculina, empresas do mundo inteiro tentam encontrar uma fórmula que possa ser utilizada da mesma maneira por elas. Nesta disputa, a Nord Pharma parece ter levado vantagem.

A empresa lança este mês na Inglaterra o Lady Prelox, que vai custar o equivalente a R$ 132 por 60 comprimidos — para um mês de tratamento, já que a indicação é tomar dois comprimidos por dia.

Segundo informações da Nord Pharma, o novo medicamento é 100% natural, feito à base de ervas, e “aumenta a libido e a excitação em mulheres”, pois “estimula o fluxo sanguíneo para os órgãos reprodutivos, bem como o cérebro”.

Para tanto, possui em sua composição: pycnogenol, um extrato botânico da casca do pinheiro marítimo francês, conhecido por suas propriedades antioxidantes; arginina, aminoácido que estimula a produção do óxido nítrico, responsável pelo aumento da vasodilatação; rosvita, o extrato da flor da rosa silvestre que possui grande concentração de vitamina C e contribui para a função psicológica; e a citrulina, um aminoácido que auxilia a arginina a estimular a produção de óxido nítrico.

Fisiologicamente falando, a combinação dos componentes faz sentido, afirmam os especialistas. Ao agir sobre a produção do óxido nítrico, o medicamento busca a mesma atuação do Viagra, de vasodilatação, mas também atua no sistema nervoso central.

No entanto, os 16 anos de busca pelo viagra feminino nos ensinam que o desejo da mulher é bem mais complexo do que a sua fisiologia.

— O que temos que entender é que a sexualidade da mulher é multifatorial.

Há questões muito profundas, de educação muito rígida, traumas sexuais, dificuldades no relacionamento e falta de atratividade pelo parceiro — diz a coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo, Carmita Abdo.

— São questões que para os homens são bem menos importantes.

Eles têm problemas de ordem mecânica, por isso a medicação resolve o problema mais facilmente.

Com as mulheres, temos que refletir sobre outras dificuldades. Senão vamos esperar demais do remédio quando poderíamos estar tentando identificar com elas o que bloqueia sua satisfação.

Aí entra uma outra discussão, bem mais ampla e complicada. Existe, de fato, o que os médicos chamam de Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo (HSDD, na sigla em inglês)?

Ele é medido pela quantidade de testosterona produzido pela mulher. Alguns dizem que sim, outros ainda se questionam.

Enquanto isso, o Consenso de Princeton — termo assinado por médicos no congresso na cidade americana, em 2002 —, ainda está em vigência.

Ele estabelece, entre outras diretrizes, que a baixa produção do hormônio em mulheres não pode ser medida, por falta de padrões de base.

— A testosterona utilizada em mulheres já foi chamada de viagra feminino.
Acontece que técnicas que medem a produção do hormônio foram feitas para homens, que possuem uma produção 20 vezes maior — alerta o membro da diretoria da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (Sgorj), Jorge José Serapião.

— Quando você mede uma coisa com padrões errados, os resultados são falsos.

O consenso estabelece que o transtorno só pode ser diagnosticado após descartar fatores psicológicos, e sem base na dosagem hormonal.

Mas a terapia possui efeitos colaterais irreversíveis, como crescimento de pelos, aumento do clitóris e mudanças no timbre de voz.

EFEITO PLACEBO

Mesmo sem comprovação científica, mundo afora mulheres são diagnosticadas com HSDD. Tudo parece levar a uma questão meramente mercadológica: a busca pelas somas infindáveis de um medicamento que aumente o prazer sexual das mulheres.

Mas, como tudo que envolve o universo feminino, não há um consenso sobre o caso.

O ginecologista e sexólogo Amaury Mendes Júnior, professor médico do ambulatório de sexualidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e secretário geral da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, comemora o novo medicamento, mesmo que sua eficácia tenha sido comprovada com estudo em apenas 200 mulheres.

— Acho esse remédio mais interessante do ponto de vista social.

Quando as pessoas debatem o assunto publicamente, muitas mulheres que têm problemas sexuais acabam procurando ajuda — afirma Mendes Júnior.

— Apesar de nenhum remédio ter o poder de enganar o cérebro, todo medicamento tem efeito placebo de cerca de 30%.

Se a mulher tem um parceiro bacana, mas possui questões de autoestima, por exemplo, pode sim ter benefício com o medicamento.

Um estudo canadense comprova o efeito psicológico.

Durante três meses, 200 voluntárias participaram de uma pesquisa com viagra.

Algumas tomaram o medicamento e outras apenas placebo.

Das que fizeram uso do viagra, 57,4% relataram maior prazer genital.

No entanto, 43,9% das que tomaram placebo declararam o mesmo efeito.
— Na verdade, o remédio auxilia a resposta sexual das mulheres, mas não vai ser útil para todas elas — ressalta Carmita.

— Para aquelas que possuem desejo, interesse sexual, mas não conseguem desenvolver uma relação satisfatória por problemas de excitação que diminuem a lubrificação, o Lady Prelox é válido.

Mas para aquelas inibidas, bloqueadas, que não têm iniciativa, é preciso buscar outras maneiras.

Segundo Serapião, desde 1930, Freud já tinha a melhor solução para o caso:

— Ele disse em um congresso: “Se quiserem saber um pouco mais sobre as mulheres, esperem os avanços da medicina ou vão até os poetas”.

Até hoje ele está certo.

Os poetas certamente sabem mais do desejo das mulheres do que os produtores do viagra feminino.

Fonte: O Globo 

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