11 nov Pessoas sem sintomas de dengue podem infectar mosquitos
RIO Um estudo liderado por unidades internacionais do Instituto Pasteur mostra que pessoas com dengue e que não apresentam qualquer sintoma da doença podem transmitir o vírus para mosquitos, caso venham a ser picadas. Assim, o inseto pode levar a dengue a outros seres humanos, renovando o ciclo de transmissão. Até hoje, de acordo com o estudo, considerava-se que os assintomáticos tinham carga viral baixa demais para conseguir infectar mosquitos. Mas a pesquisa publicada ontem, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revela que esses pacientes são até mais infecciosos do que aqueles em que os sintomas se manifestam.
Uma hipótese para a eficiência dos assintomáticos em transmitir o vírus seria que a carga viral, embora menor, aumente dentro do mosquito diz o infectologista Celso Granato, do Fleury Medicina e Saúde.
A pesquisa destaca que os estudos anteriores sobre a transmissão de homem para inseto limitaram-se a pessoas com a doença aparente. No entanto, estima-se que 300 milhões do total de 390 milhões de infecções de dengue por ano, o que equivale a cerca de 75%, sejam clinicamente despercebidas ou semissintomáticas. Como essas pessoas não são internadas ou observadas por um médico, têm mais possibilidade de entrar em contato com o Aedes aegypti.
O estudo reuniu um total de 181 participantes com o vírus detectável no sangue. Destes, 126 apresentavam sintomas da doença; 42 passaram a apresentar sintomas ao longo do estudo; e 13 não tinham qualquer manifestação e assim se mantiveram por pelo menos dez dias depois da pesquisa. Para realizar o experimento, os cientistas fizeram alguns Aedes aegypti se alimentarem do sangue dos participantes, tanto de forma direta picando as pessoas quanto indireta com alimentador artificial.
Não só mais mosquitos foram infectados quando alimentados com o sangue dos participantes assintomáticos, mas também esses mosquitos apresentaram significativamente mais cópias de genoma viral em seus corpos do que aqueles infectados pelo sangue de participantes com sintomas, diz o estudo.
José Cerbino Neto, vice-diretor de Serviços Clínicos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), no entanto, pondera que não é possível tirar, a partir do estudo, conclusões que mudem a forma de controle da doença.
O experimento contou só com 13 assintomáticos, muito pouco. O resultado talvez ajude a alterar os modelos matemáticos que usamos para calcular os riscos de transmissão, mas, na prática, pouca coisa muda diz.
A pesquisa destaca que há 3,97 bilhões, em 128 países, sob risco de infecção por dengue, doença que mata mais do que qualquer outra que se origine de arbovírus em que insetos participam do ciclo de transmissão.
Fonte: O GLOBO
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