20 dez Pesquisa mostra influência da propaganda de medicamentos
O Sistema Único de Saúde (SUS) também é
alvo das estratégias de marketing da indústria farmacêutica. É o
que constatou uma pesquisa coordenada pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) em parceria com instituições de
ensino superior de 15 cidades brasileiras.
Veja aqui integra do relatório
O objetivo do projeto foi fazer um
diagnóstico situacional da promoção de medicamentos em Unidades
Básicas de Saúde (UBS) do SUS, afirma a gerente geral de
monitoramento e fiscalização de propaganda da Anvisa, Maria José
Delgado Fagundes. As informações obtidas com a pesquisa
irão subsidiar tanto as ações de monitoramento, fiscalização e
regulação da propaganda quanto as estratégias para
fortalecer a racionalidade na aquisição, dispensação e uso de
medicamentos nas unidades básicas de saúde, complementou.
Para isso, foram identificados nas UBS
os recursos utilizados para a promoção e propaganda de
medicamentos, as fontes de informação sobre medicamentos dos
prescritores e os fatores que exercem influência na
padronização, aquisição e prescrição de medicamentos. As equipes
acadêmicas envolvidas no estudo aplicaram um conjunto de três
questionários nas unidades de saúde visitadas, estendendo o
diagnóstico da influência a prescritores (médicos e dentistas),
dispensadores (farmacêutico ou técnico responsável) e gestores
do SUS.
A Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN) foi responsável por coordenar a pesquisa, por meio
de uma parceria com as instituições de ensino superior
participantes do Projeto de Monitoração de Propaganda da Anvisa
das seguintes cidades: Manaus, Belém, São Luís, Natal, João
Pessoa, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,
Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Teresina, Porto Alegre e
Brasília.
RESULTADOS
– Prescritores
Dos prescritores (médicos e dentistas)
abordados na pesquisa, 41,3% afirmaram receber visitas de
representantes de medicamentos em seu local de trabalho, sendo
que essas podem ocorrer mensalmente (60,9%), quinzenalmente
(14,5%), semanalmente (16,4%) ou diariamente (8,2%).
Essas visitas ocorrem em 94,1% dos
casos nos consultórios. A forma preferida de divulgação
dos medicamentos é a distribuição de folders e amostras grátis
e, em segunda opção, a oferta de monografias ou artigos
científicos. Em relação à influência da propaganda na prescrição
de medicamentos, 77,9% afirmaram que não sofrem interferência
das propagandas, porém, 37,7% destes alegam que podem ser
influenciados.
Em contrapartida, 92,5% dos
entrevistados julgaram que as informações apresentadas pelas
propagandas podem ser insatisfatórias ou incompletas; mesmo
assim, 64,9% disseram que consideram essas informações ao
escolher o medicamento que irá prescrever. Os
entrevistadores também observaram, em 28% dos casos, a presença
de peças publicitárias no local, tais como canetas, panfletos,
amostras grátis e blocos.
– Gestores
A pesquisa demonstrou que ocorre
pressão da indústria farmacêutica nas decisões dos gestores em
relação à compra de medicamentos, uma vez que 75% dos
entrevistados recebem representantes da indústria que ofertam
brindes e impressos sobre os medicamentos. A frequência destas
visitas é, na maioria das vezes, mensal.
Os gestores informaram que em 46,2% dos
casos recebem solicitação de compras de medicamentos não
padronizados ou que não constam das listagens oficiais, por
motivos como decisões judiciais, compras de medicamentos
excepcionais ou por exclusividade de fabricante. Perguntados se
há influência da indústria farmacêutica nestas solicitações, 23%
responderam que sim.
– Dispensadores
A pesquisa constatou que 70,4% dos
profissionais responsáveis pelas farmácias das UBS não são
farmacêuticos. Desses, 57,9% são da área da enfermagem
(enfermeiro, técnico de enfermagem e auxiliar de enfermagem), o
que caracteriza violação à legislação em vigor, constituindo
exercício ilegal da profissão farmacêutica.
Portanto, na maioria das unidades
estudadas não existe dispensação de medicamentos, mas
simplesmente entrega do produto ao usuário, uma vez que o
farmacêutico é o único profissional devidamente capacitado para
a dispensação. Até mesmo o armazenamento de medicamentos fica
prejudicado, se o profissional encarregado não detiver os
conhecimentos necessários para sua aplicação.
Outra questão empregada na entrevista
versou sobre a emissão de prescrições com o nome comercial do
medicamento: 83,3% dos respondentes informaram que as
prescrições médicas usam o nome comercial dos medicamentos em
vez do nome genérico, o que contraria a legislação em vigor.
Perguntados se recebiam visitas de representantes de
medicamentos, 21,2% dos dispensadores afirmaram que sim.
Fonte: Anvisa
Nenhum comentário