28 out Novos remédios prometem efeitos mais duradouros contra a psoríase
Quem sofre de psoríase uma doença crônica autoimune que causa placas avermelhadas na pele tem à disposição algumas opções de tratamento, como pomada, fototerapia e também drogas orais e injetáveis.
O problema é que, não raro, tais opções acabam parando de funcionar. E não se sabe muito bem o porquê.
Um dos desafios da indústria farmacêutica é, portanto, descobrir novas drogas que tenham ação mais prolongada. E, de preferência, com menos efeitos adversos.
Os imunobiológicos têm cumprido bem esses requisitos, principalmente para casos moderados e graves. Batizados com o sufixo “mabe”, eles são usados para tratar câncer e doenças autoimunes e agem como os nossos anticorpos. Com ação mais específica, atacam o que importa e poupam as células sadias.
A bola da vez contra a psoríase são novos remédios imunobiológicos que inibem a interleucina 17 proteína que envia um sinal para células da pele e faz com que elas cresçam exageradamente, causando a pele grossa e as placas típicas da doença.
Três farmacêuticas estão conduzindo estudos com drogas anti-IL 17.
A droga da Novartis, o secuquinumabe, já foi aprovada na União Europeia, nos EUA, Austrália, Chile, Japão, Canadá, Argentina e México, mas não no Brasil. As outras, da Eli Lilly e da AstraZeneca, ainda estão em estudo.
Um estudo com o secuquinumabe, apresentado no congresso anual da Academia Europeia de Dermatologia, em Copenhague, mostrou que, após três anos, 64% dos 320 pacientes mantiveram índice de 90% de melhora. Índice similar, de 85% de melhora, foi obtido por 83% dos pacientes no período.
Em estudo de fase 3 (última antes da aprovação) com 679 pacientes de 24 países, 79% deles tiveram melhora de 90% na 16ª semana, em comparação com 57,6% dos pacientes que usaram o Stellara, biológico da Janssen que tem outra proteína como alvo e já foi aprovado no Brasil.
“As novas drogas parecem mais efetivas e estamos esperançosos com resultados duradouros, mas ainda não são a cura”, diz Marcelo Arnone, médico da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).UM DE CADA VEZ
Arnone lembra que, pelo Consenso Brasileiro de Psoríase, o paciente deve iniciar o tratamento da doença moderada a grave pela fototerapia. Em caso de falha, passa para remédios sistêmicos (metotrexato, acitretina, ciclosporina), antes de usar drogas biológicas.
“Tem pacientes que ficam anos com o mesmo remédio, mas muitos perdem a resposta, talvez porque o organismo produza anticorpos contra a medicação”, diz Ricardo Romiti, médico responsável pelo ambulatório de psoríase do HC da USP. “Se os outros remédios não funcionarem ou produzirem muitos efeitos colaterais, há a opção dos biológicos, que funcionam mais como um tiro ao alvo.”
Romiti, porém, chama atenção para o fato de que os biológicos também têm efeitos colaterais, ainda que mais leves que as drogas tradicionais, como infecções respiratórias e candidíase.
Cerca de 2% da população mundial tem psoríase, mas há variações regionais. No Brasil, a SBD começou uma pesquisa por telefone para estimar a prevalência no país.
Há evidências de que o prejuízo físico e mental dos pacientes com psoríase é comparável ou maior do que o experimentado por pacientes com câncer, artrite, cardiopatias, diabetes e depressão.
ATÉ R$ 40 MIL
Os novos biológicos contra a psoríase podem ser promissores, mas, como outras drogas modernas lançadas para tratar câncer, colesterol e hepatite C, esbarram no custo.
O preço de referência do secuquinumabe (nova droga contra psoríase) no exterior é de cerca R$ 4.820. Ele é usado a cada dois ou três meses.
Há quatro biológicos já aprovados pela Anvisa, mas nenhum deles é oferecido pelo SUS. De acordo com o dermatologista Marcelo Arnone, o custo anual delas pode ser de R$ 40 mil ao ano.
Segundo avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS de 2012, a duração média dos estudos clínicos que avaliaram a eficácia desses remédios para psoríase é curta e há incerteza quanto à melhor terapêutica de longo prazo.
“A maioria dos pacientes brasileiros ainda vai receber o tratamento convencional, Biológicos são caros. Vamos encarar os fatos: tomamos decisões de acordo com a ciência, mas também com relação ao custo”, diz Kristian Reich, professor de dermatologia da Universidade Georg-August de Göttingen, na Alemanha.
Segundo Marcos Bosi Ferraz, professor-adjunto de economia e gestão em saúde da Unifesp, grandes investimentos em inovação de drogas voltadas para grupos específicos explicam os preços. “O lançamento de novas tecnologias cresce mais rápido do que o enriquecimento da nação. Não há sistema de saúde que aguente.”
Fonte: Folha de S.Paulo
Autor: MARIANA VERSOLATO
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