22 jun Lentidão da Anvisa já traz desabastecimento
O atraso na liberação, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de insumos importados está prejudicando desde o início do ano a indústria farmacêutica, levando até ao desabastecimento de produtos como os kits para diagnóstico da dengue. A espera pela chamada anuência sanitária da agência reguladora aumentou de menos de uma semana corrida para até 30 dias úteis, de acordo com a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), que representa 40 empresas do setor. A situação é particularmente crítica nos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e do Galeão.
Faltam funcionários na Anvisa para fazer a liberação dos produtos importados, afirma Carlos Gouvêa, presidente executivo da CBDL. O quadro da agência tinha muitos servidores federais cedidos por outras autarquias e órgãos federais, alguns deles já extintos. Uma grande parte se aposentou e não houve preenchimento das vagas em aeroportos. Por utilizar matérias-primas com menor vida útil, mais perecíveis, o segmento de diagnóstico laboratorial vem sofrendo mais com a demora nas liberações. Fabricante de kits para diagnóstico da dengue, a carioca Medivax, por exemplo, tem esperado em média 45 dias para obter a liberação de seus insumos no Aeroporto do Galeão.
Nossos insumos têm vida útil curta, de oito, nove meses. Um atraso de 45 dias é muito para nós, comenta Eduardo Weizmann, gerente de Operações da empresa. Por causa dos atrasos, a Medivax não têm conseguido cumprir prazos previstos em licitações para entrega de produtos à prefeituras e órgãos de Estado.
Além de gerar desabastecimento de alguns produtos no mercado, a demora na liberação aumentou os custos de armazenagem, já que até passarem pelo crivo da Anvisa as mercadorias ficam estocadas em portos ou aeroportos. A conferência pela Anvisa, em conjunto com o despachante aduaneiro, demorava três dias até o fim do ano passado, conta Jorge Janoni, diretor geral do laboratório Kovalent e da importadora e distribuidora Byosis. Como a armazenagem é paga por semana, o grupo normalmente gastava apenas o valor referente a sete dias. Agora, chega apagar por quatro semanas de estocagem. Todo mundo está super estocando. O problema é que o nosso produto tem prazo de validade, diz Janoni.
De origem francesa, o laboratório bio Mérieux enfrenta dificuldades similares. O volume de itens impactados pela lentidão já supera os 13 mil kits de diferentes produtos e reagentes utilizados no diagnóstico in vitro em laboratórios e hospitais. Alguns laboratórios e hospitais irão receber produtos com até 60 dias a menos de validade, na média,estima Wesley Schiavo, gerente de Produto da bio Mérieux.
Já os fabricantes de medicamentos tendem a ser menos afetados do que os de produtos de diagnóstico laboratorial, por normalmente trabalharem com matérias-primas de validade mais extensa. Mesmo assim, a Interfarma entidade que engloba 55 laboratórios confirmou em nota que algumas farmacêuticas associadas informaram estar enfrentando uma espera acima do normal para a liberação de cargas contendo matéria-prima e medicamentos.
Ainda de acordo com a associação, a espera acima do normal não chegou a comprometer o abastecimento do mercado nacional, mas o risco disso acontecer não está descartado. No Brasil, 86% da matéria-prima empregada na fabricação de medicamentos é importada. Praticamente toda a indústria farmacêutica é afetada pela demora na liberação das cargas, acrescenta a Interfarma.
Um executivo do setor que pediu para não ser identificado conta que participou na semana passada de uma reunião com o diretor-presidente substituto da Anvisa, Ivo Bucaresky, na qual o tema foi abordado.
Ele se mostrou ciente do problema e disse que a agência está fazendo um esforço em termos de recursos humanos para diminuir os atrasos,com remanejamento de pessoal,conta ele.
Procurada para comentar os atrasos na liberação de insumos importados, a Anvisa não se pronunciou.
Fonte: Brasil Econômico
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