13 mar Hospitais testam estimulação elétrica contra depressão
Dois grandes hospitais de São Paulo estão testando a estimulação elétrica de um nervo localizado no rosto para o tratamento da depressão, da fibromialgia e da dependência de crack. O procedimento experimental é indolor e não invasivo.
Na técnica, dois eletrodos conectados a um marca-passo são colocados na testa do paciente, região do nervo trigêmeo, que passa pela mandíbula, pelo maxilar e pela região próxima aos olhos.
Os eletrodos, então, enviam ondas elétricas até as áreas do sistema nervoso central que regulam o comportamento. Os neurônios reagem ao estímulo e voltam a funcionar em níveis normais.
No HCor (Hospital do Coração), o procedimento está sendo testado em 14 pacientes com depressão moderada e nos próximos meses mais 70 serão recrutados.
“Esse estímulo altera o fluxo sanguíneo e os impulsos neuronais com benefícios visíveis”, diz Antônio De Salles, coordenador do Núcleo de Neurociência e Neurocirurgia do HCor.
Já na Santa Casa, os testes com a estimulação do nervo trigêmeo incluem, além da depressão, a fibromialgia, doença caracterizada por dores em todo o corpo, e a dependência do crack.
Lá, a técnica foi aplicada em dez pacientes com depressão severa que não respondiam mais a medicamentos. Foi o caso da funcionária pública Ivone Pereira Lopes, 55.
Após o tratamento experimental com eletroestimulação durante duas semanas, parou de usar remédios, não sente mais dores pelo corpo nem sinais da depressão.
A fase de manutenção da terapia, a partir deste mês, será mais inovadora: após receber orientações, os pacientes farão em casa a eletroestimulação com aparelhos portáteis cedidos pelo hospital.
Segundo Pedro Shiozawa, coordenador do Laboratório de Neuroestimulação Clínica, ligado à Santa Casa, todos os pacientes do estudo se recuperaram da depressão após o tratamento.
CONTRA A FISSURA
Como a técnica deu bons resultados nos casos de depressão e transtorno da ansiedade, pesquisadores da Santa Casa decidiram usar o tratamento em usuários de crack, especificamente para controlar a vontade incontrolável de consumir a droga.
Com os eletrodos instalados, o usuário é colocado para assistir a um vídeo com imagens da droga que, normalmente, provocam fissura. Segundo os primeiros relatos, com as ondas elétricas, o desejo pela droga não aparece.
Shiozawa ressalta que não se trata de cura, e sim de uma ferramenta para ajudar os usuários que ainda precisa ser testada em mais pessoas antes de ser proposta como alternativa de tratamento.
Entre as técnicas de neuroestimulação, apenas a magnética transcraniana foi aprovada pelo Conselho Federal de Medicina para depressão uni e bipolar, alucinações auditivas em esquizofrenia e planejamento de neurocirurgia. Para De Salles, a terapia ainda é pouco usada, devido à dificuldade de acesso e ao desconhecimento.
Sua principal vantagem, afirma, é apresentar menos efeitos colaterais que os medicamentos.
Fonte: Folha de S. Paulo
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