17 jul Gel dificulta a evolução do câncer de mama
Na puberdade, as glândulas mamárias de uma menina começam a se desenvolver devido à liberação dos hormônios sexuais femininos na circulação sanguínea. As mamas são extremamente sensíveis à ação da progesterona e do estrógeno, que se ligam ao tecido dos seios por meio de moléculas conhecidas como receptores. É essa associação que vai controlar a multiplicação celular, atendendo às exigências da vida sexual e reprodutiva do organismo. Quando as células cancerígenas passam a promover alterações nessa região, uma de suas estratégias é manter esses receptores, pois será a partir deles que elas conseguirão se alimentar e, assim, crescer e se desenvolver. Essa explicação corresponde a 70% dos casos de câncer de mama, tendo a droga tamoxifeno como principal terapia contra eles.
A substância não é um quimioterápico, age interrompendo essas ligações entre o receptor e o hormônio para que o tumor não possa mais evoluir (veja infografia). Atualmente, a medicação é ministrada oralmente, afetando o corpo de maneira sistêmica, ou seja, por inteiro. Uma nova proposta de entrega dessa substância pode mudar completamente a forma como são desenvolvidos os tratamentos anticancerígenos. De acordo com uma pesquisa publicada hoje na Clinical Cancer Research, uma revista especializada da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, o mesmo medicamento em forma de gel poupou as pacientes de uma série de efeitos colaterais normalmente percebidos na versão oral. Além disso, ele também se mostrou mais eficaz devido à aplicação local mais restrita e intensa.
A variação do tamoxifeno em gel criada por uma equipe que reuniu diversos departamentos da Escola de Medicina da Universidade Northwestern Feinberg recebeu o nome de 4-OHT. O estudo comparativo com a terapia oral foi feito com 27 mulheres com carcinoma mamário in situ, idade entre 45 e 86 anos e no período pré ou pós-menopausa. Metade delas tomou o medicamento oralmente e a outra aplicou o produto nos seios de seis a 10 semanas antes de uma cirurgia de mastectomia. No processo, a concentração de tamoxifeno no tecido adiposo mamário e em seus principais metabólitos foi determinada por espectrometria de massa de cromatografia.
Neste estudo, demonstramos que a aplicação do gel 4-OHT na pele resultou em níveis elevados de droga no seio e em níveis baixos na circulação. Isso manteria a eficácia da droga, mas minimizaria os efeitos colaterais, concluiu a principal autora do trabalho, Seema Khan. O nível baixo da droga no sangue reduziu efeitos colaterais hormonais e de coagulação que são comumente vistos em pacientes tratadas com tamoxifeno orais. Após as semanas de aplicação do gel, um marcador de proliferação celular (Ki-67) também foi reduzido no tecido da mama a níveis comparáveis ao do tratamento por comprimidos.
Del Giglio explica que uma possível vantagem é que a absorção transcutânea faz com que a substância não passe pelo fígado, como acontece na administração oral, levando a uma alteração nos efeitos sistêmicos. Uma vez que a via é diferente, não atinge todo o corpo. Existem outros medicamentos que interferem no metabolismo do tamoxifeno por meio fígado, como os antidepressivos. Pode ser que essa interação deixe de acontecer com o gel, cogita.
A opinião é similar à da pesquisadora Seema Khan. Ela explica que o tamoxifeno precisa ser processado pelo fígado para ativar seus componentes. Nesse processo, os efeitos secundários prejudiciais também podem surgir, como a ativação de proteínas que provocam a formação de coágulos sanguíneos. Uma vez que a metabolização pelo fígado é eliminada quando o gel 4-OHT é aplicado diretamente sobre a pele do peito, o efeito prejudicial de aumentar o risco de coágulos de sangue também deve sumir. Com base nos resultados, no entanto, os pacientes que usaram o gel não tiveram melhora significativa dos sintomas vaginais, gastrointestinais ou ondas de calor e suores em comparação às usuárias orais o que eram considerados efeitos colaterais benéficos.
Fonte: Correio Braziliense
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