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Fitoterapia indicada contra leishmaniose

Fitoterapia indicada contra leishmaniose

A leishmaniose acompanha o homem desde os tempos mais remotos e tem apresentado nos últimos 20 anos um aumento do número de casos em todos os estados brasileiros. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença acomete cerca de dois milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente em países tropicais e subtropicais, e, é provocada pela picada de um inseto denominado flebotomíneo, também conhecido como mosquito palha ou birigui, mais comum em áreas de floresta ou cidades da zona rural.

Na sua forma cutânea, pode provocar úlceras ou lesões na pele. Na sua forma visceral, a doença também pode afetar órgãos internos, como fígado, medula óssea e baço. Atualmente, o tratamento recomendado é extremamente tóxico, à base de compostos químicos que provocam intensos efeitos colaterais. Pesquisas realizadas na Universidade Federal do Pará, no entanto, revelam que o extrato de uma planta amazônica pode ser eficaz contra a ação de uma das espécies de protozoários do gênero Leishmania, o que tornaria o processo de cura menos traumático. A planta é a Physalis angulata e o protozoário, Leishmania amazonensis.

A constatação é resultado dos estudos de Raquel Raick, aluna do curso de Biomedicina da UFPA e bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIBIC) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), juntamente com a professora Edilene Oliveira da Silva, do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA e do Instituto Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (INBEB), orientadora da pesquisa. As investigações empreendidas por professora e aluna, inclusive, renderam um trabalho recentemente contemplado com o 8º Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica, promovido pelo CNPq.

A intenção é que as pesquisas possibilitem a futura confecção de um medicamento manipulado. “Os compostos até então utilizados para o tratamento da doença não têm demonstrado eficácia devido à resistência criada por essas drogas em espécies causadoras de leishmaniose“, explica Raquel Raick. Além disso, o esforço dos pesquisadores visa alcançar uma fórmula que não produza efeitos colaterais, como pancreatite, náusea e dor abdominal, sintomas constantemente relatados por pacientes tratados com os medicamentos químicos, por longos períodos.

Physalis angulata já é usada para combater inflamações

Nesse cenário, as plantas medicinais oferecem novas perspectivas para a descoberta de compostos diferenciados e com propriedades terapêuticas. A Physalis angulata, por exemplo, possui ação anti-inflamatória. No conhecimento popular, essa espécie é utilizada para combater dores de ouvido, de barriga e outras inflamações. A planta é encontrada em regiões tropicais e subtropicais em todo o mundo. Na Amazônia, é mais comum em cidades da zona rural.

Os experimentos com Physalis angulata vêm sendo desenvolvidos na UFPA desde 2006, em uma cooperação entre os laboratórios de Parasitologia e Neuroquímica. O uso do extrato da planta, aplicado contra a leishmaniose, é inédito cientificamente. “Em 2010, foi publicado um estudo sobre a utilização de partes isoladas (purificadas) de substâncias da planta na ação contra a leishmaniose, mas esta pesquisa continua sendo inédita porque trabalha com o extrato aquoso. A partir de uma colaboração do nosso grupo com pesquisadores de Química, foi possível isolar e identificar todas as substâncias presentes no extrato”, explica Raquel Raick.

A pesquisa da estudante foi realizada com auxílio da microscopia eletrônica, com o objetivo de identificar atividade leishmanicida utilizando o extrato da planta. “A Leishmania tem duas formas evolutivas: a forma promastigota e amastigota. Observei as duas formas. A forma promastigota tem vida extracelular, está no inseto e pode ser transmitida para o humano. Essa forma evolutiva é cultivada em nosso laboratório a partir de cepas cedidas para pesquisa pelo Instituto Evandro Chagas, a atual referência regional para o tratamento da doença”, continua a jovem cientista.

No terceiro dia de cultivo da forma promastigota, tratada com o extrato, já se podia observar uma diminuição significativa do crescimento da Leishmania. Segundo Raquel Raick, no processamento para análise em microscopia eletrônica, foi observado, ainda, que a Leishmania apresentava alterações ultraestruturais, ou seja, o protozoário teve seu ciclo de desenvolvimento alterado.

A outra forma evolutiva da Leishmania, a amastigota, está presente no organismo humano e é uma forma de resistência ao parasita. “Não temos cultivos dessa forma amastigota, que está presente nas células humanas. Por isso trabalhamos com células obtidas de camundongos. Cultivamos essas células in vitro e realizamos um experimento de interação, no qual colocamos a Leishmania e as células em um mesmo meio de cultura. No experimento controle, as leishmanias resistem à ação microbicida dessas células. Por outro lado, nas células infectadas e tratadas com o extrato de Physalis angulata, as leishmanias são destruídas”, conta a estudante.

350 milhões de pessoas correm risco de adquirir a doença

Estando a ação da Physalis angulata comprovada em estudos in vitro, a próxima etapa é a de testes in vivo, primeiramente em animais de laboratório. Em seguida, em primatas não humanos, como o macaco. A orientadora da pesquisa, professora Edilene Silva, explica que, somente após essas etapas, será possível pensar em testes de tratamento de uso tópico em humanos. “Como foi comprovada alguma ação antileishmania a partir de substâncias purificadas da mesma planta, a hipótese é que haja um sinergismo quando se trabalha com o extrato, pois em conjunto com outras substâncias, o efeito da planta pode ser potencializado”, sintetiza a biomédica.

A leishmaniose é a zoonose considerada uma das seis doenças infectoparasitárias de maior importância pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com cerca de 350 milhões de pessoas sob risco. Na Amazônia, são seis espécies que causam a leishmaniose cutânea e uma espécie causadora de leishmaniose visceral.

A ação da Physalis angulata concentrou-se no estudo sobre Leishmania amazonensis, que é cutânea, mas é possível que resultados semelhantes possam ser observados em outras espécies. “Isso não seria propriamente a cura para a doença, mas uma forma de tratamento sem efeitos colaterais, a qual poderia evitar, por exemplo, a proliferação das lesões ou a ocorrência de metástase”, observa a professora.

Outra linha de pesquisa desenvolvida na UFPA envolve a ação contra a Leishmania desempenhada por bioprodutos de fungos. A investigação encontra-se em fase de testes in vivo por meio da cooperação entre os Laboratórios de Parasitologia e de Desenvolvimento de Fármacos do ICEN.
“Uma descoberta como essa é importante para a região amazônica, uma vez que, aqui, a incidência da doença é elevada e os tratamentos utilizados são invasivos e muito tóxicos”, destaca Edilene Silva. A pesquisa já foi patenteada internacionalmente e oferece resultados comprovados na capacidade de ativar as células de defesa e matar a Leishmania ainda em sua fase inicial.

Fonte: Jornal Beira do Rio – UFPA

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