07 mar Cientistas descobrem ’calcanhar de Aquiles’ do câncer
RIO As células cancerosas têm marcações genéticas que podem servir de alvo para o sistema imunológico atacar o tumor. Esta descoberta, descrita num estudo publicado pela revista “Science”, pode levar a uma revolução no combate à doença, abrindo caminho para tratamentos individuais muito mais eficientes do que os disponíveis atualmente.
O conceito de imunoterapia já vinha sendo considerado a grande arma contra o câncer. Consiste em estimular o sistema imunológico do corpo humano por meio de substâncias modificadoras de resposta biológica. Devidamente turbinadas, as células imunológicas atacam diretamente cada tipo de tumor. O resultado deste novo estudo, porém, potencializa a eficácia desse tipo de tratamento identificando o “calcanhar de Aquiles” nas células do câncer.
Assim como todos os organismos vivos ao longo da História, o tumor também passa por uma evolução. Isto explica por que algumas de suas partes se tornam diferentes de outras. Tal complexidade genética torna muito difícil o ataque por nossas células imunológicas especializadas, chamadas de células T. Mesmo que reconheçam o câncer como um problema, e tentem combatê-lo, a complexidade do seu crescimento é demais para os nossos soldados.
Ficou claro, porém, que mesmo as partes mais complexas de um tumor têm marcações genéticas de sua fase inicial. A equipe de cientistas de Harvard, MIT e da Universidade College London descobriu raras células imunológicas, dentro dos tumores, capazes de reconhecer essas estruturas originais, mais vulneráveis, e de combatê-las. Se essas células puderem ser isoladas e artificialmente multiplicadas no laboratório, podem formar uma força poderosa contra o câncer, com o potencial para atacar todas as células cancerosas no corpo.
Combinadas com drogas, estas células podem levar a uma nova geração de tratamentos customizados contra o câncer. Então nossos cientistas planejam agora estudar mais sobre essas células. Se a promessa se cumprir, pode ser uma forma revolucionária de tratar ou mesmo curar o câncer.
O sistema imunológico do câncer atua como a polícia no combate a criminosos. Tumores geneticamente diferentes são como uma gangue de bandidos envolvidos em diferentes crimes, de roubo a contrabando. O sistema imunológico se esforça para dominar o câncer, assim como a polícia quando tem tanta coisa acontecendo explica o cientista Sergio Quezada, do Centro de Pesquisas sobre Câncer do Reino Unido, coautor da pesquisa.
Chefe do Laboratório de Imunoterapia da College London, ele acrescenta:
Nosso trabalho mostra que, em vez de procurar delitos sem pistas em diferentes vizinhanças, podemos dar à polícia a informação para chegar ao chefão do crime, o ponto fraco do tumor no paciente, para acabar com o problema.
A pesquisa sugere duas abordagens para atacar os pontos fracos dos tumores. Em uma delas, uma vacina criada a partir das “marcações” genéticas do câncer pode ser desenvolvida sob medida para cada paciente. O medicamento, então, “treinaria” o sistema imunológico a localizar as vulnerabilidades. Na outra abordagem, aquelas células imunológicas que já identificam as mutações seriam “pescadas” e multiplicadas em laboratório, antes de serem injetadas de volta no corpo do paciente.
Fonte: O GLOBO
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